A Despedida
A morte começa por dentro.
Primeiro, esfria o estômago
e não há fome ou sede.
O tempo delira pouco a pouco
ou, talvez sejam os espaçados
batimentos cardíacos,
pancadas no peito
ao longo dos anos surdos.
Hoje balança erraticamente,
uma dor tão longe
a não parecer ser mesmo minha.
A vista antes de escurecer clareia.
Rastro de pernas e braços,
a memória vaga
e não me movo.
Para o morto resta nada.
Ainda tenho algum tempo,
os olhos seguem abertos
mas inegavelmente morro. Penso.
Os dedos já não são meus e a língua.
Mas, ainda, a linguagem existe.
Sonhos são esquecidos na manhã seguinte
como eu hei de ser esquecido
Já não sou.
A vista turva de lágrimas,
não tem nem pensamento!
Secam por fim os olhos.
Uma última cena: